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Portas de correr ou de abrir?

Atualizado: 23 de abr. de 2022



Vivemos uma época generosa: a valores relativamente baixos, podemos ter mobiliários de altíssimo acabamento e conforto. Mas não foi sempre assim.

Nós, urbanos, estamos acostumados com a precisão, a suavidade e a durabilidade dos produtos de alta qualidade. Mas vamos resgatar a memória de como chegamos até aqui, rapidamente.


Um pouco de história


As primeiras portas deslizantes conhecidas, de uso residencial, são de origem japonesa, e elas não utilizavam rolamentos. As fusumas e shojis são as portas ou divisórias deslizantes, em base geralmente de madeira, canaletas perfeitas, enceradas com cera ou sebo animal. Travadas acima no trilho superior, foram o canal de entrada na cultura ocidental.

Apesar de haver portas com rolamentos, de uso em fazendas e galpões, é improvável que tenham sido utilizados antes da revolução industrial, ou talvez tenham sido utilizadas com rolamentos no renascimento, pois seria uma tecnologia inviável de custo altíssimo para o usuário comum, a seu tempo. As fusumas por outro lado, eram um padrão há séculos. Levando-se em conta que não havia problemas de segurança: pois as portas japonesas e as casas de papel arroz não eram desenhadas para barrar invasores – estes não existiam como atualmente. Era uma época cavalheiresca feudal oriental: combates de espadas eram frequentes.

As portas da revolução industrial, apoiadas em trilhos de ferro batido, e forjadas em estilo de ferro fundido, não eram silenciosas como as rolamentadas de hoje (rolamentadas significa que tem uma rolimã dentro, com bolinhas, prolongando a vida útil e gerando suavidade, estabilidade, e silencio). Os móveis com portas deslizantes, no ocidente, no mesmo formado das gavetas com contato madeira/madeira (como as fusumas), são raros ou inexistentes até o surgimento do modernismo. Usava-se cera de vela por exemplo, para lubrificar gavetas a seco. Hoje usamos corrediças telescópicas de aço.




Vantagens e desvantagens em móveis


Apesar de ambas serem assunto arquitetônico amplo, vou focar no mobiliário.

As vantagens das portas de abrir são basicamente estéticas (leia-se "preferências", pois as de abrir são igualmente belas), e também ocupam menos espaço no ambiente. Entretanto, isso pode ser uma ilusão. Pois para a utilização de portas de correr em móveis, como guarda roupas, o próprio trilho e as folgas entre portas ocupam 7 a 8cm da profundidade. E ao mesmo tempo, o sistema de correr, com duas portas por exemplo, nunca permite abrir 100% do vão (sempre ficarão fechando parte do móvel). O efeito é pior ainda com 3 portas, pois sempre ficará menos que 1/3 do vão total, disponível para abertura real.

As portas de abrir, no imaginário de algumas pessoas, são algo mais “antigo”. Porém essa opinião é equivocada. As portas de abrir (há quem chame "de giro") são excelentes, duram muito mais, tem manutenção muito mais simples e barata. Além disso, são muito mais ágeis no dia a dia, e permitem total abertura do móvel, simultaneamente. Seu único inconveniente é, além do imaginário social, o fato de ocuparem espaço da abertura (em geral de 30 a 50cm) e não serem adequadas a grandes espelhos. Divide-se o vão total do móvel para que tenha portas aproximadamente dentro destas medidas. As portas de abrir, se não batidas no fechamento, são muito mais silenciosas - se bem que hoje, praticamente é um padrão, dobradiças com amortecimento. E de qualquer forma, as de correr também batem, se não tiverem amortecimento (mesmo caso das de abrir).

As portas de correr, que para algumas pessoas são mais sofisticadas, não são as únicas que contam com amortecimento. Os sistemas de abrir com amortecimento são muito elegantes e suaves. O amortecimento das portas de correr geralmente conta com um “pescador” que engancha na porta e amortece seus movimentos. Se mal instaladas, vivem escapando.

Apesar de a tecnologia estar a cada dia melhor, com diversos modelos no mercado e diversas marcas, não é nem um pouco raro que o pescador solte. É simples encaixa-lo, mas algumas pessoas podem se incomodar com isso. E apesar de todo ajuste prever jamais desencaixar, o manuseio pode "empinar" a porta, ou seja, levantar um dos lados, e isso pode coincidir, sem caso de falta de sorte, com a passagem do pescador e levar a transposição errada - aí a porta nem fecha direito nem amortece.

Eu particularmente, para meu uso pessoal, prefiro as de abrir. Possuo dos dois tipos em minha residência, e realmente, sempre recomendo a de abrir pelos motivos citados.




Acabamentos


Entra em jogo também, no caso das opções, os puxadores. Se você deseja portas com cordões ornamentados tipo almofadas e puxadores altos, não é viável em portas de correr. Então, estilos neoclássicos ou cottage por exemplo, ficam melhor com sistemas de abrir, se desejar um acabamento delicado e não de fazenda, como por exemplo, românticos ou clássicos. Até porque não existiam portas de correr nesses períodos europeus ou americanos.

Os puxadores do tipo cava são um show a parte, em alguns casos. Mas não são adequados para todos os modelo - alguns empurram bem mas não puxam bem!


Vale lembrar que para áreas molhadas, o contato ideal é com os de alumínio, e não apenas em MDF - que é mais em conta mas expõe o cerne do MDF a umidade podendo gerar estufamento a longo prazo, para quem pega com a mão molhada, frequentemente.


Os acabamentos em laca são interessantes em todos os casos, mas o custo é com frequência um impeditivo. Por outro lado, permitem retoque a longo prazo, com cores fáceis de serem alteradas ou repintadas. A tinta não é esmalte sintético: é PU (poliuretano), e endurece com catalisador. Por isso é mais cara que as tintas convencionais.

Existem também os puxadores tipo concha embutida, que são embutidos na porta, e permitem deslize entre folhas pois não são mais altos que a porta. Não confundir com os conta tradicionais, que saltam da peça.


Conciliação


É muito importante ter em mente que deve haver conciliação entre os estilos, os custos e a viabilidade técnica, além da durabilidade a longo prazo.

Nem todo design é adequado, por mais belo que seja. Uma alternativa correta deve surgir para cada combinação de espaço x estilo x uso x orçamento x viabilidade técnica x durabilidade.

São diversos pontos, e nenhum deles deve ser ignorado. Procure sempre uma empresa que possa te orientar e te guiar na melhor escolha, na execução dos seus móveis.


Tecnologia


No mundo dos mobiliários e ferragens, as aparências enganam, e muito. Ferragens idênticas visualmente diferem em valor na ordem de 750% - por exemplo, dobradiças tipo caneco (as mais conhecidas de moveis) mais baratas podem sair por menos de 5 reais. Entretanto, alguns modelos podem custar mais de R$ 30,00 a unidade. Então, muito cuidado com o seu contrato e qual modelo estará sendo instalado, tanto para trilhos (que variam na espessura), réguas puxadoras, kits de correr, dobradiças... todas passam por essas variações extremas de preço e qualidade. Tome a liberdade e atitude de visitar uma loja de ferragens de mobiliário, para compreender qual material seu marceneiro estará fornecendo.




Fonte das imagens: internet.

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida (11)999128929 - www.arkdesign.com.br


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