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Foto do escritorArq.Gabriel Noboru Ishida

Como gastar menos com marcenaria - Parte 1

Atualizado: 10 de out.




Primeira parte de um conjunto de 14 dicas (a segunda parte é melhor ainda, aguarde!)


Nesta matéria, quero orientar você, caro leitor, e sugerir soluções e dicas que, muitas vezes, não são conhecidas ou adotadas por insegurança ou falta de informação.

Reserve um tempinho para a leitura; afinal, estamos falando de algo muito além de uma simples camiseta, certo? Se um investimento acima de mil reais não justificar a leitura, fique à vontade para ignorar. Mas, se você valoriza informação detalhada, este conteúdo é para você.

Em linha com minha filosofia, nenhuma solução aqui compromete a qualidade dos materiais. Por isso, nunca recomendarei o uso de MDP (aglomerado) ou ferragens de baixa qualidade — práticas comuns em grandes empresas de móveis planejados que, embora apresentem estética atraente no curto prazo, têm durabilidade baixa. Como marceneiro e arquiteto, meu compromisso é sempre com a solução mais eficiente e duradoura possível. Nosso objetivo é desafiar paradigmas e modismos que podem ser facilmente superados com uma simples mudança de perspectiva


1 - Não se importe com a opinião alheia



Embora vivamos em sociedade, muitas pessoas ainda direcionam seus esforços para obter a aprovação alheia — seja nas roupas que usam, no local onde moram, nos filmes que assistem, ou até mesmo nas opiniões que possuem. Não se trata de romper laços sociais, mas é saudável deixar de lado a necessidade constante de aprovação. Isso se aplica também à escolha de móveis: perguntas como 'quais as cores da moda?' ou 'o que estão usando?' são sinais claros dessa preocupação. Se você já se pegou pensando assim, cuidado: talvez esteja decidindo mais pelo que os outros vão pensar do que pelo seu próprio gosto. E, no fim, ninguém paga suas contas, certo?

Modismos sempre existiram, e fugir deles exige personalidade, bom gosto e uma noção clara do que é atemporal. Como marceneiros e arquitetos, nossa função é orientar, sugerir com base em nossa experiência. Podemos alertar sobre escolhas com prazo de validade, como um piso branco brilhante, mas a decisão final sempre é do cliente.

Por outro lado, existem os pseudo contra-modismos: propagandas que se espalham nas redes sociais tentando convencer que soluções testadas e aprovadas por décadas estão 'fora de moda'. Minha postura é ignorar completamente esse ruído e lembrar que, muitas vezes, o que é visto como ultrapassado é exatamente o que traz qualidade e tranquilidade, como aqueles carros que, apesar de não serem os mais modernos, não te deixam na mão.

Se você é alguém que não consegue se desprender da opinião dos outros, além de gastar mais com marcenaria, possivelmente está investindo muito mais em várias áreas da sua vida pelo mesmo motivo.


2) Lançamentos de cores de chapas



Trabalhamos com diversos catálogos das marcas mais consistentes, que oferecem fornecimento seguro e produtos de alta qualidade. No entanto, é comum que esses catálogos mudem, mesmo entre marcas menos conhecidas, mas que também apresentam excelentes materiais.

Essa dinâmica de troca de catálogos tem múltiplos objetivos, mas, no fim, afeta tanto o cliente quanto o marceneiro. Para os fabricantes, a obsolescência programada e a rotatividade acelerada de estilos são estratégias para impulsionar o lucro. Para os marceneiros, isso é um problema, pois dificulta o aproveitamento de sobras de chapas, gerando desperdício e encarecendo o processo. Com tantas marcas e padrões disponíveis, é ótimo ter variedade, mas também há o risco de que determinados modelos saiam de linha rapidamente.

No mercado, existe uma 'pirâmide' de preços. No topo estão os acabamentos brilhantes, que evitamos por seu alto custo, seguidos por cores de lançamento, que podem custar até o dobro da média. Em seguida, vêm as cores que eram premium e estão se tornando padrão, e, por fim, as que estão prestes a sair de linha. Por último, as que já saíram de linha mas ainda estão disponíveis em estoque, com a ressalva de que, se precisar de mais material no meio da fabricação, pode não haver reposição.

Paralelamente, existem marcas menos conhecidas, mas com qualidade comparável às grandes, como Sudatti, Berneck e Greenplac. Elas podem ter preços até 20% menores em comparação com as grandes, como Duratex, Guararapes, Eucatex e Arauco. No entanto, é importante observar a qualidade de perto: alguns brancos genéricos, por exemplo, podem ter películas mais finas, o que pode levar a manchas ao longo dos anos ou problemas de permeabilidade (embora raros).


3) Modismos geométricos




Entre os modismos mais caros dos últimos tempos está o painel ripado, um exemplo clássico. Nem todo elemento em tendência é necessariamente bom ou durável, mas pode, sim, satisfazer um desejo específico. Os painéis ripados, por exemplo, exigem muita mão de obra, consomem grandes quantidades de fita de borda e são mais complicados de executar e finalizar na obra em comparação com chapas planas. Tudo isso eleva consideravelmente os custos, tornando-os uma opção mais acessível para quem pode investir, não necessariamente para quem deseja.

Embora o ripado não seja uma moda passageira — afinal, ele remonta ao início do modernismo e é um elemento tradicional da arquitetura e do mobiliário brasileiro —, o uso excessivo na última década transformou-o em algo quase onipresente. Hoje, recomendo cautela: é preciso clareza sobre o que se quer e coerência com o projeto como um todo. Gosto do ripado e acredito que, mesmo após a moda passar, ele continuará belo. Porém, é uma escolha mais cara do que móveis com superfícies retas.

Este exemplo demonstra que nem tudo que está na moda é necessariamente melhor. São apenas tendências, e ninguém deve se sentir obrigado a segui-las ou se sentir inferior por não adotá-las. Isso só acontece na cabeça de quem não está bem informado, e, nesse caso, não é um problema nosso — a menos que essas pessoas estejam dispostas a pagar a diferença.


4) Evite muitas cores




O padrão mais econômico, sem dúvida, é o branco 100%. Ele é versátil e clássico, mas há um estigma: alguns o consideram ‘pobre’ quando escolhido pelo preço, e ‘sofisticado’ quando é uma escolha intencional. Brincadeiras à parte, o branco tem uma elegância atemporal, mas precisa de iluminação adequada para não transformar o ambiente em algo parecido com uma clínica. Não é o branco que é o problema, é a luz!

Quanto mais cores você incluir, maior será o custo, não apenas pelas chapas, mas também pelas fitas de borda correspondentes, gerando desperdício e encarecimento. A compra mínima é uma chapa inteira de 184x275cm, e se não for toda usada, o que sobra vira retalho — e isso entra na conta de quem solicitou. Além disso, os custos em marcenaria são multiplicados: uma chapa que custa R$ 500,00 a mais que o branco pode facilmente ter esse valor triplicado, chegando a R$ 1500 de diferença (exemplo simbólico, out. 2024).

Uma solução prática é combinar o branco com apenas uma cor em quantos locais for possível. Outra é planejar com seu marceneiro ou arquiteto para usar uma chapa em mais de um ambiente, otimizando o material.

A regra é simples: menos cores, menos custo. Branco é sempre a opção mais barata. Móveis com três cores são lindos no projeto, mas a realidade do orçamento é outra — e quem paga a conta é o cliente.

Na imagem deste item, vemos gabinetes coloridos. Se forem pintados, a laca é naturalmente mais cara. Se forem em MDF com cores específicas e novas (sem sobras disponíveis), cada chapa deve ser comprada inteira, o que pode multiplicar o custo do móvel por até 10 vezes. Adesivagem e pintura comum são opções, mas aqui discutimos diversificação real de chapas ou acabamento em laca.



5) Ambientes instagramáveis, precisa mesmo?



A ideia de algo 'instagramável' pode ser um erro quando falamos de ambientes duradouros. Não me refiro, é claro, a projetos belos e funcionais que, além de práticos no dia a dia, também se destacam nas redes sociais. A questão é a diferença entre apreciar uma imagem por cinco segundos e viver naquele espaço diariamente. Assim como perfumes, sabores ou músicas intensas, algo que parece ótimo por pouco tempo pode se tornar insuportável a longo prazo.

Isso não é uma crítica aos espaços que funcionam bem tanto nas mídias sociais quanto no dia a dia, nem às experiências comerciais, que são projetadas para serem vividas por um curto período — e funcionam muito bem assim. Afinal, são criadas para impressionar rapidamente, não para morar ou trabalhar por longos períodos (exceto para os funcionários, que, ou amam o ambiente, ou é apenas parte do trabalho).

Cuidado com gastos excessivos em busca de um ambiente que é lindo em fotos, mas que na prática pode ser cansativo ou até estressante. Ambientes com muitos elementos e cores podem gerar sobrecarga sensorial e afetar seu bem-estar, distorcendo a percepção de que a vida, em sua essência, é feita de momentos simples e diluídos, como um chá. Lembro-me de um antigo texto oriental que li anos atrás, que falava sobre a vida ser vivida em estado de 'diluição', valorizando o comum e o ordinário em contraponto ao vício por estímulos intensos, como acontece nas redes sociais.

Não tenha receio de criar um ambiente simples, leve e suave — é como um investimento emocional que traz equilíbrio e evita gastos desnecessários.

Acima de tudo, cuidado com projetos que são lindos no digital, mas impraticáveis na realidade: portas que batem no teto ou na cortina, puxadores bonitos mas desconfortáveis, alinhamentos perfeitos que tornam a rotina um desafio. Muitas imagens na internet são apenas conceitos visuais que nunca foram construídos ou seriam extremamente caros e pouco práticos se fossem. Não se deixe enganar pelo que seus olhos veem nas telas!


6) Puxadores e ferragens em geral


Quem trabalha na área conhece a variedade de produtos disponíveis — não digo todos, porque ninguém conhece realmente todos, mas entendemos as tipologias. Por exemplo, conhecemos puxadores gola, cava, slim, concha embutida, modernista, entre outros.

Alguns desses puxadores são lindos em fotos, mas nem sempre são práticos. Muitos exigem adaptações que podem reduzir o aproveitamento do móvel. Imagine perder 50mm em uma frente de 70cm de altura; o espaço interno útil de 634mm passa para 584mm — uma redução de quase 8%. Um exemplo são puxadores cava simples, que precisam de um batedor horizontal e podem consumir até 10% da altura de uma gaveta.

Além disso, os puxadores da moda podem ser caros sem oferecer vantagens funcionais. Pessoalmente, não defendo o mais bonito se ele compromete a praticidade, mas executo se o cliente desejar. E, por mais simples que pareça, o melhor puxador ainda é o modelo cava — não é o mais barato, mas oferece excelente custo-benefício. Minha sugestão é ter cuidado com os modelos bonitos nas fotos, mas que, no dia a dia, podem ser difíceis de limpar ou ter baixa aderência.

Uma ideia interessante que testei é usar fita de bordo branca nos topos dos móveis, em vez da cor da chapa. Parece estranho, mas o resultado é contemporâneo, com um toque pop, industrial e despojado. Embora o custo das fitas de bordo seja multiplicado, essa alternativa pode gerar uma economia significativa, dependendo do trabalho e da quantidade de bordos a serem revestidos, chegando a 400-700 reais em uma cozinha inteira, o que pode representar até 5% do custo total.

Para um efeito mais suave, recomendo usar essa técnica com cores claras de madeira ou tons neutros, mas, se a intenção for um visual mais pop, qualquer cor pode funcionar.


7) Filetamento de topos alternativo




Uma solução interessante que testei pessoalmente foi usar fita de bordo branca nos topos dos móveis em vez de seguir a cor da chapa. Pode parecer inusitado, mas o resultado é surpreendente: fica contemporâneo, com um toque pop, industrial, leve e moderno (no sentido avant-garde). Embora o custo das fitas de topo seja multiplicado, essa alternativa pode gerar economia significativa, dependendo do trabalho e da quantidade de bordos a serem revestidos, chegando a uma diferença considerável.

Em uma cozinha inteira, por exemplo, a economia pode variar entre 400 e 700 reais, representando até 5% do custo total. Para um efeito mais suave e discreto, recomendo usar essa técnica com cores claras de madeira ou tons neutros. No entanto, se a intenção for um visual mais ousado e pop, qualquer cor pode funcionar.

Na imagem acima, é possível observar o contraste da fita branca aplicada em tons claros, médios e escuros, mostrando como essa técnica funciona em diferentes contextos.





Fonte das imagens: internet

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida - www.arkdesign.com.br

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