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Como gastar menos com marcenaria - Parte 1




Primeira parte de um conjunto de 14 dicas (a segunda parte é melhor ainda, aguarde!)


Nesta matéria, vou orientar vocês caros leitores, e propor algumas soluções e dicas muitas vezes não conhecidas ou não adotadas por dúvida e insegurança.

Recomendo reservar um tempinho para ler, afinal de contas, não estamos falando de uma camiseta, certo? Se mais de mil reais não forem motivo para esta leitura, pode desconsiderar! Texto de twitter é para quem não precisa. Sou da geração que lê e escreve bastante.

Entretanto, em conformidade com minha conduta, nenhuma solução implica redução de qualidade dos materiais, e por isso, em nenhuma hipótese vou sugerir a utilização de MDP (aglomerado) ou ferragens de baixa qualidade - solução adotada por grandes empresas de móveis planejados, com resultado estético maravilhoso no curto prazo, e durabilidade baixíssima. Como marceneiro e arquiteto, meu foco sempre será a solução minimamente ótima, e duradoura. O que buscamos então, é quebrar paradigmas e modismos que podem ser facilmente superados apenas com uma mudança de ponto de vista.


1 - Não se importe com a opinião alheia



Apesar de vivermos em sociedade, muitas pessoas vivem dedicando parte de seus esforços à aprovação alheia: roupas, linguagem, onde morar, que filmes assistem, que livros lêem, que opiniões sociais e políticas possuem... Bem, não é meu objetivo romper os laços sociais, mas é verdade que deixar de lado alguns sentimentos como expectativas sobre aprovação alheia, é recomendável. Isso sim se aplica a móveis: algumas perguntas como "quais as cores da moda" ou "o que estão usando", são tipicamente prova irrefutável desse tipo de preocupação. Se vagamente já escutou essas frases dentro da sua cabeça, atenção: talvez esteja tomando decisões pelo que acha que os outros vão pensar. Mas ninguém paga suas contas, certo?

Modismos são típicos de todas as épocas, e figir deles exige personalidade e orientação adequada, bom gosto, noção do que é atemporal e o que é modinha. Como empresa marcenaria ou até mesmo como arquiteto, não podemos forçar as pessoas a não fazerem o que desejam, mesmo que eventualmente saibamos que esse ou aquele revestimento ou acabamento tem vida curta e são péssimas decisões - piso branco brilhante por exemplo. Mas orientamos, sugerimos, uma vez, no máximo duas. A decisão é sempre do contratante.

Na direção inversa, pseudo contra-modismos vão tentar forçar as pessoas, via propagandas de produtos "inovadores" e "superiores" que se alastram nas redes sociais, fazendo de tudo para te convencer que aquela solução, sim comum, mas que vem sido testada ha décadas e tem demonstrado excelentes resultados, é "algo fora de moda". Minha postura para essas coisas, é ignorar completamente, e olhar para aquilo e pensar "são como propagandas de carros péssimos que acabaram de lançar, e já deram 3 recalls, e muitas pessoas compraram e ainda compram até descobrir a bomba que são. E enquanto isso vamos vivendo com os fora de moda, que são maravilhosos e nos enchem de paz".

Por isso, se você não consegue se desprender da opinião alheia, não só vai gastar mais com marcenaria ou torna-la inviável, como deve (suponho) estar gastando muito em diversas áreas de sua vida, pelo mesmo motivo.


2) Lançamentos de cores de chapas



Trabalhamos com diversos catálogos, das marcas mais consistentes e de fornecimento mais seguro, estável e de qualidade. Entretanto, entre essas marcas - algumas não tão badaladas assim, mas com excelentes produtos - temos a dinâmica da troca de catálogos.

A finalidade é multipla, e no final da corda, estoura na verdade do lado mais fraco, que é o cliente e o fabricante marceneiro. Do lado do fornecimento, a obsolência programada de estilos e o excesso de giro para forçar a novidade, são movimentos puramente mercadológicos e que envolvem lucro para os fabricantes. Para os marceneiros, é péssimo pois raramente, para não dizer nunca, são aproveitadas partes de chapas - eventualmente consideráveis, para novos móveis. São muitas marcas, muitos padrões, muitas cores, o que é maravilhoso, porém eles também saem de linha.

Dentro dessa pirâmide de custos, os mais caros são os brilhantes (que evito a todo custo), depois as cores lançamentos especiais, com custos até 100% maiores que a média, mas em geral 40% mais caros. Depois as cores que eram de topo mas estão em direção ao standard, ainda mais caras que a maioria das cores; Depois temos as cores se encaminhando para sair de linha e lá embaixo, as cores que já saíram de linha mas ainda existem no mercado em depósitos. Destas últimas, o único risco é faltar chapa se precisar comprar mais no meio da fabricação. Fora isso, tudo igual no sentido prático.

E em paralelo a toda essa dinâmica de piramide de obsolência programada, existem as piramidezinhas de fabricas menos famosas mas com excelentes produtos também, que não deixam absolutamente nada a desejar com relação às marcas mais famosas.

Seus custos podem ser, digamos, 20% menores em geral, partindo inclusive, de uma comparação com o meio da piramide maior: as peças mais caras são 20% mais baratas que os lançamentos tornando-se comuns, da anterior.

Esse movimento ocorreu de forma mais marcante no pouco início da pandemia, mas está paulatinamente encaixando as marcas menores com preços semelhantes aos das marcas maiores, mas ainda há tempo. Marcas como Sudatti e Berneck, Greenplack, podem ter custos melhores, com muito bons materiais, se comparados com Duratex, Guararapes, Eucatex, Arauco, etc. Mas é recomendável olhar de perto: alguns brancos genéricos apresentam películas muito finas, podendo levar a manchar mais rápidas com os anos, e problemas com permeabilidade (casos raros).


3) Modismos geométricos




Entre os modismos mais caros que já houve, estão o ripado. É um ótimo exemplo.

Nem tudo que se usa em modismo é necessariamente bom e durável, podendo entretanto matar sua vontade, seja ela qual for. Os paineis ripados além de consumirem muita mão de obra, consomem muita fita de bordo, e são difíceis de se executar e finalizar na obra, se comparados com chapas retas. Isso tudo traz aumentos gritantes nos orçamentos. Mas são opções para quem pode, não para quem quer - ainda. E não é que o ripado seja moda, afinal de contas, ele existe desde o início do modernismo, ou das linguagens industriais penetrando o mundo da arquitetura de interiores. Também é um elemento típico da arquitetura e mobiliário brasileiro. Porém, o que aconteceu na última década, parece um exagero, até certo ponto: tudo virou ripado. Por isso, atualmente, não recomendo, exceto em casos muito específicos e com muita clareza do que se quer, e se a linguagem geral é coerente com o caso. Ainda acho lindo, mesmo saindo de moda vai continuar lindo. Porém, é bem mais caro que os móveis retos.

Este caso serve de exemplo, para demonstrar que nem tudo que se usa em moda é bom ou melhor. São só tendencias, ninguém é obrigado a adotar, nem será inferiorizado por isso: apenas na mente dos menos informados, mas aí não é problema nosso, certo? A não ser que eles paguem a diferença.


4) Evite muitas cores




O padrão mais em conta de todos, evidentemente, é o branco 100%.

Se por um lado é considerado "pobre" por alguns, é também considerado "de rico" por outros, com a simples diferença de que quando escolhem porque querem é de rico, quando escolhem porque é o mais barato é de pobre hahaha... brincadeiras a parte, com grande fundo de verdade, o branco é clássico e nobre. Mas com a iluminação incorreta pode tornar-se uma clínica dentro de casa. Veja: não é o branco, é a luz!

Quanto mais cores você escolher, maior será o custo, não só por causa das chapas, mas por causa das fitas de bordo respectivas, todos com gastos e desperdícios já que nunca se aproveita 100%, exatamente o que se comprou. A compra mínima é uma chapa inteira de 184x275cm. Se não for toda usada, vira retalho, mas a compra vai para a conta de quem pediu. E tudo em marcenaria, assim como em serralheria e outras áreas, é multiplicado por 1,5... 2, 3, 5... varia. O que não varia é que qualquer diferença de custo é multiplicada, sendo portanto, uma troca de cores por cores mais caras, não apenas a direferença entre os custos diretos, mas os fretes, e o multiplicante. Exemplo: uma chapa custa R$ 300,00 a mais que a branca, provavel que seja multiplicada por 3 e torne-se R$ 900 de diferença (valores simbólicos, out. 2023)

Uma solução agradável é usar branco com uma cor, no máximo de locais que puder. Ou conversar com seu marceneiro, ou arquiteto que tenha essa competência, para programar de forma que uma chapa possa servir em um ambiente, e outra(s) chapa(s) em outro ambiente.

A regra é: quanto menos cores, mais em conta. Branco é o mais em conta. Móveis com 3 cores por exemplo... lindos no projeto de quem nunca orçou realmente um móvel... mas quem paga a conta é o contratante.

Na ilustração deste item, vemos dois gabinetes colorido. Se são pintados, a laca em si já é bem mais cara que o normal. Se forem em MDF com cores novas (ou seja, não havendo sobras na marcenaria para tal, caso queira escolher quais cores) então cada chapa deverá ser comprada inteira... e o móvel vai custar 10x mais só pela quantidade de chapas coloridas diversas. Naturalmente, existe a opção adesivagem e pintura comum, mas o topico aqui é a diversificação em chapa real, ou mesmo, laca.



5) Ambientes instagramáveis, precisa mesmo?



A própria idéia de instagramável é um erro, quando se trata de ambientes duradouros.

Não estou falando, claro, de projetos e obras lindas que além de viáveis no dia a dia, são tão bons que são também instagramáveis.

Existe uma grande diferença entre olhar uma foto por 5 segundos, como nas redes sociais, ou viver no local. São como perfumes, sabores, musicas: muita coisa boa por pouco tempo é insuportável no longo prazo.

Não estou condenando, obviamente, o resultado que funciona no longo prazo e no shot rapido das mídias sociais. E muito menos as experiências comerciais, que são vivências de curto tempo - aliás acho maravihos isso, sabendo de antemão que não são locais para se morar nem para se trabalhar (exceto os funcionários de atendimento: ou ossos do ofício, ou eles amam, ou não faz diferença).

Muito cuidado para gastos excêntricos em busca do ambiente que é lindo na foto, com varios itens e várias cores, mas na prática pode tornar-se enjoativo e levar a excessos de informações ou percepções, criar danos no gotejamento de seratonina, e distorcer sua noção de que a vida em geral no mundo todo em toda a história, foi sempre baseada no "diluído", como chá. Lembro-me vagamente de um texto provavelmente chinês que li há decadas atrás, mas não encontrei a referencia, que dizia que a vida é normalmente vivida em estado de "diluição", no sentido de que as coisas "monótonas, comuns, ordinárias" - e hoje fica mais fácil falar - estão no contraponto do vício em seratonina, proporcionado pelo feed.

Não tenha medo de fazer um ambiente simples e leve, suave: é como um investimento em algo que não te dá gastos e te permite guardar dinheiro, mas no sentido emocional, também.

E acima de tudo, muito cuidado com projetos que são lindos no digital mas não são nem ao menos exequíveis: portas que pegam no teto, na cortina, no seu dedo do pé, puxadores irritantes mas lindos, alinhamentos bonitos que vão fazer o caldo da sopa cair no chão com grande frequência, etc. Uma porção absurda de materiais da internet que se parecem com fotos na verdade nunca foram construídos, ou se fossem seriam caríssimos e nada práticos. Não sejam enganados pelos olhos!


6) Puxadores e ferragens em geral


Nós que trabalhamos na área, conhecemos quase todos os produtos - e não digo todos porque acredito que ninguém conhece todos realmente - mas não estou falando de modelos e marcas, que são milhões; Estou comentando sobre tipologias, por exemplo: conhecemos que existem puxadores gola, cava, bolinha, cava com aba, slim, slim longo, concha externo, concha de embutir, concha modernista, etc.

Alguns puxadores são lindos na foto, mas não são realmente práticos. Muitos deles podem te forçar a reduzir suas gavetas, ou suas portas, e portanto o % de aproveitamento do móvel. Imagine reduzir 50mm por causa de um puxador, uma frente de móvel de 70cm de altura, com interno útil 634mm, resulta em 584 util final - são praticamente 8% do volume ou acesso do móvel. Exemplo puxadores cava simples entre gavetas, que exigem batedor horizontal, consumindo 10% da altura de uma gaveta ou mais.

Além disso, puxadores na moda podem ser apenas caros mas nada melhores. Eu jamais defenderei o mais bonito que traz prejuizos funcionais e práticos, mas executo, se for solicitado. E por mais bizarro e simplório que possa parecer, o melhor puxador ainda é o cava - nem tão barato assim, mas o que tem todas as características de custo benefício otimo. Por isso, apenas sugestão, muito cuidado com puxadores lindos na foto, e péssimos no dia a dia, ruins de limpar, com grip fraco, etc.

Existe uma situação rara, mas muito interessante que testei para mim mesmo e ficou lindo: ao invés de filetar os topos do móvel com fita de bordo da cor da chapa colorida, a utilização de bordo BRANCO. Sim, parece estranho, mas funciona. Fica mais contemporâneo, um pouco pop, um pouco mais industrial e mais despojado e leve, mais "moderno" (no sentido de avant garde). O custo das fitas de topo são multiplicados, como tudo. Essa opção, pode parecer pouco significativa, mas dependendo do trabalho, da quantidade de bordos a serem revestidos, e dependendo do custo do bordo, pode dar uma diferença considerável.

Esta é uma dica secundária, mas que existe, então estou citando. A economia pode girar em torno de 400, 700 reais, por exemplo, numa cozinha inteira. Ou seja, pode ser 5% do custo geral, por exemplo.

Para ficar mais suave, recomendo a utilização com cores mais claras de madeiras, ou cores lisas. Mas se for resultado mais pop, podem ser qualquer cor.


7) Filetamento de topos alternativo




Existe uma situação rara, mas muito interessante que testei para mim mesmo e ficou lindo: ao invés de filetar os topos do móvel com fita de bordo da cor da chapa colorida, a utilização de bordo BRANCO. Sim, parece estranho, mas funciona. Fica mais contemporâneo, um pouco pop, um pouco mais industrial e mais despojado e leve, mais "moderno" (no sentido de avant garde). O custo das fitas de topo são multiplicados, como tudo. Essa opção, pode parecer pouco significativa, mas dependendo do trabalho, da quantidade de bordos a serem revestidos, e dependendo do custo do bordo, pode dar uma diferença considerável.

Esta é uma dica secundária, mas que existe, então estou citando. A economia pode girar em torno de 400, 700 reais, por exemplo, numa cozinha inteira. Ou seja, pode ser 5% do custo geral, por exemplo.

Para ficar mais suave, recomendo a utilização com cores mais claras de madeiras, ou cores lisas. Mas se for resultado mais pop, podem ser qualquer cor.

Na imagem acima pode-se ver o contraste com um acor clara, uma média e uma escura.

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