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Inteligencia artificial para projetos: DALL-E, da Open-AI

Atualizado: 18 de dez. de 2022



Evolução do projeto


Para algumas pessoas, como eu mesmo, a experiencia com a computação gráfica e e a evolução dos computadores é algo que aconteceu quase simultaneamente. Para nós, falar de computação é quase como realizar uma biografia. Especialmente porque os computadores mudaram toda a história pessoal e coletiva, desde que surgiram e se popularizaram.

Quando eu comecei a aprender a projetar, ainda era uma criança de 11 ou 12 anos. Não me lembro com precisão. Mas havia pranchetas de desenhos com réguas paralelas na casa dos meus pais, devido aos estudos de dois irmãos meus. E toda aquela maravilhosa parafernália da Trident como esquadros de acrílico, compassos profissionais, aranhas de texto, escalímetros...



Depois com a difusão e normalização dos computadores pessoais, eu conheci o Corel Draw e o Photoshop, graças a um terceiro irmão que já nesse tempo era inclusive programador. E entrei em contato com diversos outros softwares de desenho que me encantavam na época (1994) como por exemplo o infame Windows Paintbrush, o primeiro que conheci e que criou os fundamentos do universo raster, ao nível dos pixels! É, as resoluções era irrisórias, nós enxergavamos os pixels como se fossem átomos gigantes com suas limitadas variações de 256 cores.

Os primórdios da computação gráfica, se comparados aos nossos dias, eram hilários. Mas naquele tempo, tudo era fascinante e novo. E tudo que víamos jamais havia existido antes.

Na universidade cursando Arquitetura e Urbanismo, em 1997 tive meu primeiro contato com AutoCAD, ainda era a versão R14. Entretanto, já havia funções de projeto completas e 3D. Na faculdade, fazíamos os dois tipos de projetos, em pranchetas, e em computadores. Cheguei a fazer projeto em CorelDRAW!.

E o tempo foi passando e os paramétricos chegaram (Archicad, por exemplo, hoje o Revit) e o conceito de BIM se instalou. Mas em todos eles, a mão humana e decisões inteiras eram tomadas pelo projetista. As facilidades desses equipamentos eram apenas a de salvar em formatos 3D ou 2D, e permitir edição completa antes da impressão, e também uma conciliação de elementos construtivos (exemplo dutos de ar condicionado, tubos de sprinkler, água e esgoto, estruturas...) e o armazenamento em mais de duas dimensões, correções fáceis, e qualidade na finalização.

E toda a lógica do Autocad se baseava na tradição das pranchetas, inclusive com relação a layers (camadas), penas, escalas, e tantos itens cuja linguagem primordial deverá se prolongar da mesma forma que no universo naval se prolongou o a unidade em nós, e o conceito de logbook se espalhou para outras áreas.


A brand new world


A inteligência artificial, que aparentemente deixou de ser apenas uma coleção de algorítimos/ferramentas, filtros e funções, passou a tomar longas decisões inteiras. E como toda tendência de linguagem de máquina e interface, passou a interagir diretamente com o ser humano em linguagem expressiva não técnica nem codificada. Uma coisa maravilhosa, e dá um certo medo.

Todas as imagens da galeria seguinte foram integralmente geradas por inteligencia artificial. O usuário digita no prompt o que deseja, em texto, como quem explica a um artista. E o programa monta inteiramente o conceito. Exemplo "panda numa moto com bandana em uma pista ensolarada no oeste dos EUA"


O DALL-E é um algorítimo de inteligencia artificial, criado pela instituição Open AI. É uma versão do GPT-3 que usa 12 bilhões de parâmetros. Anteriormente, sua origem foi através da continuação de textos ou partes de imagens em sua segunda etapa. Mas o caldo está engrossando rapidamente.

A New ‘OpenAI’ Artificial Intelligence Group é uma empresa formada por Elon Musk, Peter Thiel, e outros investidores e tecnocratas - incluindo programadores, investidores e outros interessados que se uniram para supostamente manter a inteligencia artificial aberta e acessível. E apesar de Elon Musk com frequência afirmar que ela é perigosa, não sabemos se ele pretente limita-la ou conte-la como ferramentas. Como as máquinas que eram máquinas não sencientes, na cidade Zion no filme Matrix. Ou talvez isso seja apenas um discurso superficial, e em breve todos esses algorítimos serão aplicados a máquinas autônomas, e serão disponibilizadas e implantadas em máquinas utilizadas na colonização marciana, tanto quanto em outros locais.


Mas e o real futuro dos arquitetos e projetistas? Alguns softwares tem supostamente enxugado o processo criativo e permitido vendas mais rápidas e produções mais controladas. Porém, o que se observa é que a realidade dos softwares está sempre fora do eixo principal da empresa, ou pelo menos deve ser ajustada significativamente. Tudo deve ser criteriosa e demoradamente predefinido para que os itens paramétricos possam se ajustar ao tal "rápido" e "resolvido de uma ponta a outra". Opcionalmente, alguém ou algumas pessoas criam diversos módulos que podem ser editados no atendimento, enxugando parte do processo como por exemplo, quantificar e orçar.

Porém, devido a um rol infinito de aspectos locais e pessoais, não estão inclusos os parâmetro com relação ao subjetivo do cliente ou do autor, nas máquinas. Ao menos por hora. Esse fator, com relação ao lado autoral, pode até ser implantado nos módulos ou na edição, mas passa de produto a la carte para produto de massa.


Seria ótimo, um programa gratuito open source onde eu pudesse escrever: faça uma sala e veja quanto fica, bem bonita" como já escutei muitas vezes. Infelizmente, ou felizmente, ainda, projetar e orçar é um trabalho exclusivo e a la carte. Então se não é, tenha em mente que é massificado.


Porém, podemos ter certeza que esse caminho é irreversível, e num futuro muito próximo, creio que poderei assistir a queda de muitos profissionais da área de projeto, especialmente os que baseiam sua capacidade e marketing em ilustrações foto-realísticas. Estas, podem ser lindas e convincentes, mas muitas vezes tecnicamente ou financeiramente inviáveis. Pois se para o olhar leigo/não profissional, projeto é uma coisa que sai de uma máquina de café espresso, para os verdadeiros autores de projeto que se preocupam até onde vai dar para fixar o parafuso, a inteligencia artificial pode demorar um bom tempo para substituir absolutamente tudo.


Ilustração muito bonita x Projeto de verdade


Incluí uma ilustração abaixo com o simples propósito de servir como exemplo para exercitar a visualização dos eventos. Não conheço o autor, nem sei a história dessa imagem. Levantando uma hipótese, de que muitas ilustrações não são projeto. De certa forma, pelo menos, implantar em 3D e simular móveis pre-fabricados combinados não chega a ser projeto, em minha opinião, sendo mais um processo de venda semelhante a venda por teste, onde a loja disponibiliza o móvel para que seja alocado para conferência e estímulo na venda. Os móveis da imagem abaixo, não são de marcenaria, nem sob encomenda. São combinações de produtos disponíveis no mercado.

Se for este o caso, podemos afirmar sem receio, que é um quase não projeto, ou um proceso de quase zero criação. Algumas pessoas me recomendariam remover a palavra "quase".

Não há como afirmar, e talvez não seja o caso dessa imagem específica, mas a utilizarei como exemplo, e o autor me pedoe de o sofá, lareira e poltronas, piso tenham sido criação sobre um ambiente com nada disso, mas real.

O render é lindo, os efeitos são realísticos. Todos são realizados por computador. Os algorítimos para iluminação já estão prontos, ou com sets do programa, ou com pre-sets ou cenas readymade, ou seja, arquivos do programa que alguém montou e depois foi alterado em alguns pontos.

Muitos "artistas" digitais apenas pegam materiais prontos, eventualmente sem conhecimento algum para criá-los do zero, mas com muita frequência editando características mais simples. Ou seja, pode ser que nenhum desses itens tenha sido criado pelo suposto autor do projeto. E isso é mais comum do que você imagina, e domina o mercado de vendas de "projetos".

As vezes fazemos moveis existentes que escolhemos por princípio de linguagem estética, copiamos para encaixar na cena, esculpimos o 3D, ou com sorte achamos o modelo 3D pronto e convertemos o formato do arquivo, importanmos e utilizamos o objeto na cena. Especialmente em se tratando de itens de decoração. Mas em geral, não é isso o que mais acontece no mercado de projetos. Escolher itens, combinar e renderizar é uma tarefa difícil, respeitável, bela e agradável, e exige inteligencia e capacidade manipulativa dos softwares envolvidos, e investimentos - estes computadores não são para qualquer aventureiro brincar de ilustrador. Mas não tenho certeza se isso é realmente projeto, no conceito real e total da palavra. Eu chamaria de decoração, ilustração, composição, combinação, simulação, prévia, pre´vendas, vendas, pre-vivência.

Num sentido cinematográfico, a composição desde que alinhada a intenções e um design pensado, mesmo que com objetos prontos, pode sim ser considerado projeto. Mas quanto a vendas de itens já prontos, que é escolher itens em prateleiras muitas vezes sem conhecimento histórico ou estético, talvez não mereça ser chamado de projeto.




Apesar de eu não saber a história dessa imagem ou do(a) projetista, a qual peguei na internet livre, arrisco dizer que 99% dos projetos são feitos com o não criativo trabalho braçal de se arrastar blocos prontos para uma cena, muitas vezes já construídos por outras pessoas, de móveis que esses sim foram criados por projetistas verdadeiros, ou pelo menos, escultores digitais, ou copiadores digitais em 3D, ou ferramentas de scan 3D sobre objetos.

Estes casos como o da imagem acima, chamamos simplesmente de projeto arquitetônico por questões práticas.

E eis aí a diferença de um projeto de móveis planejados, como a imagem seguinte, realizada por nós.

Abaixo, imagens de projeot e móvel pronto, com itens realmente projetados. Todos os equipamentos eletrônicos da cena foram medidos e baseados em itens reais que já existiam, ou que seriam implantados, e portanto, são esculturas digitais, não projeto. Mas o móvel, e suas funções de ventilação, e posição das chapas e forma de montagem, e a correspondência em milimetros do móvel real com o móvel do 3D, são projeto no sentido completo da palavra. As luminárias do 3D foram montadas após visita a loja e junto aos clientes, escolhidas em conjunto, sendo este acompanhamento parte do trabalho.



A verdade é que um projeto não precisa necessariamente ser bem acabado e lindo, mas a obra real SIM. É por isso que ainda existem arquiteto(a)s que fazem desenhos manuais e aquarelas por exemplo, e são muitos mais valorizados que os renderizadores.

A cada ano, a capacidade necessária para se executar um render de qualidade fica menor, pois os programas acumulam cada vez mais tarefas longas e autônomas. Por isso, antes de se iludir com projeto bonito, que pode ser ruim, pense bem no que é o projeto, pois o importante é o uso, custo e aparência real viabilizada final, além da durabilidade (projeto interfere sim).

Faça um exercício de separação entre os itens de decoração que não são parte do projeto, e o que realmente está sendo projetado, e o que realmente é o móvel, se a questão for a marcenaria. Mas se o seu pedido foi apenas a combinação de itens para visualizar como seria, então ok, é um trabalho de ilustração digital e pode ser lindíssimo. Mas em alguns casos, não pode ser chamado de projeto.





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