top of page
Foto do escritorArq. Gabriel Noboru Ishida

Como gastar menos com marcenaria - Parte 2


8 - Puxadores de Aba Passante


Os puxadores de aba passante, também conhecidos como puxadores minimalistas ou “sem puxador”, são uma ótima alternativa para reduzir custos, especialmente em áreas secas e onde o design permite. Esse tipo de solução utiliza a própria porta ou gaveta, que se projeta ligeiramente além da estrutura do móvel, permitindo que seja aberta confortavelmente, sem a necessidade de ferragens adicionais.


No entanto, não é recomendável o uso em ambientes como cozinhas, banheiros e áreas de serviço. O motivo é simples: mãos molhadas podem entrar em contato com a borda da porta, comprometendo a fita de topo. A umidade constante, mesmo que em pequenas quantidades, pode infiltrar e causar o estufamento da madeira ou do MDF, resultando em danos permanentes à peça e, consequentemente, ao móvel na totalidade.


Se o móvel for feito com cores e chapas ainda disponíveis no mercado, a substituição pode ser simples. No entanto, se a linha de cor ou material já saiu de produção, encontrar uma peça de reposição será um desafio e, geralmente, quase impossível. Isso pode exigir a troca completa do móvel, um processo custoso e trabalhoso.


Além disso, o custo final de um móvel não se resume apenas ao valor dos puxadores ou ferragens. Muitas empresas calculam o preço considerando o tempo de execução, consumo de fitas e chapas, e o valor agregado ao design minimalista. Portanto, optar por um sistema sem puxadores não reduz apenas o custo dessas peças, mas pode representar uma economia de 2 a 4 vezes sobre o valor do material utilizado, dependendo da empresa e de seus processos de precificação.


A escolha por um design sem puxadores é uma forma elegante e contemporânea de compor ambientes, mas é fundamental avaliar o contexto de uso e os custos de manutenção a longo prazo para garantir que a estética minimalista se mantenha prática e funcional.



9 - Evite Corrediças com Amortecedor


As corrediças com amortecedor podem parecer um toque de luxo e sofisticação, mas é importante avaliar sua real utilidade e qualidade antes de investir. Este tipo de corrediça só é realmente eficaz e durável quando provém de fabricantes consolidados e de alto padrão. Caso contrário, arrisca-se adquirir modelos de baixa durabilidade, que podem se quebrar facilmente e gerar frustração a curto prazo.


O custo-benefício dessas corrediças deve ser bem analisado. Muitas pessoas não se adaptam ao movimento mais lento proporcionado pelo amortecedor, que, para alguns, pode ser mais um incômodo do que uma vantagem. Além disso, as corrediças com amortecimento têm um custo significativamente maior, chegando a ser até sete vezes mais caras do que as corrediças telescópicas comuns de qualidade aceitável. É um investimento alto que nem sempre se justifica.


Outro ponto importante a considerar é a manutenção futura. Se, em algum momento, você precisar trocar essas corrediças, provavelmente desejará manter o padrão de amortecimento para que todas as gavetas fiquem uniformes. Isso significa que o custo não está apenas no investimento inicial: pode reaparecer em alguns anos, quando uma substituição for necessária, somando o custo das novas corrediças e da mão de obra.


Em resumo, optar por corrediças comuns, mas de boa qualidade, é uma solução mais segura e econômica. Elas oferecem praticidade e resistência sem o custo adicional e os potenciais problemas das corrediças com amortecimento. Avalie bem o custo inicial e a manutenção a longo prazo para fazer a escolha que melhor equilibra funcionalidade e economia.


Obs: citando corrediças não invisíveis, que são outra tipologia.




10 - Ignore Algumas Especificações de MDF em Projetos de Arquitetura


Como arquiteto e marceneiro, minha recomendação é revisar cuidadosamente as especificações de cores de madeirados e chapas de MDF junto à marcenaria responsável antes de finalizar qualquer projeto. Muitas vezes, arquitetos especificam materiais e cores com base em tendências ou estética visual, mas é importante lembrar que a realidade do mercado e as necessidades práticas podem ser bem diferentes.


A escolha de MDF pode ser otimizada para reduzir custos sem comprometer a qualidade. Existem marcas menos conhecidas que oferecem chapas de altíssima qualidade, com acabamentos e texturas semelhantes às grandes marcas, mas por um preço mais acessível. Em vez de seguir cegamente as especificações feitas por profissionais que nem sempre levam em conta o impacto financeiro, vale a pena explorar alternativas que podem reduzir significativamente o valor final do projeto.


Além disso, a qualidade e durabilidade do MDF estão mais relacionadas aos seguintes fatores do que à marca em si:


a) Como o usuário cuida e interage com as superfícies e quinas ao longo do tempo. A manutenção é crucial para prolongar a vida útil dos móveis.


b) O nível de umidade e temperatura do local onde o móvel será instalado. Banheiros e áreas próximas a fornos, por exemplo, exigem materiais que suportem essas condições extremas.


c) A qualidade da afiação da serra usada pelo marceneiro. Cortes lascados são um sinal de que as serras não estão adequadamente afiadas, e isso afeta diretamente o acabamento.


d) O transporte e a instalação, garantindo que não haja impactos nas quinas ou danos durante o deslocamento e a montagem. É essencial ter cuidado nesse processo para evitar riscos e amassados que comprometam o visual.


e) A utilização correta dos móveis: em casos de uso contínuo, como com mouses em mesas de escritório, é importante proteger as superfícies para evitar abrasão excessiva, que pode deixar manchas ou áreas clareadas ao longo do tempo. Utilizar mouse pads e protetores é uma maneira simples de prolongar a vida útil dessas superfícies.


Revisar as especificações junto ao marceneiro e considerar marcas de qualidade menos conhecidas pode garantir um projeto esteticamente bonito e duradouro, sem comprometer o orçamento. É fundamental equilibrar a estética com a funcionalidade e a realidade prática, sempre levando em conta que a execução do projeto na marcenaria e a forma de uso pelo cliente são os fatores que realmente determinam a durabilidade e a qualidade final do produto.


11 - Aceite Algumas Sugestões do Profissional de Marcenaria


Nada como a experiência de um profissional para olhar um projeto e identificar potenciais problemas ou elementos que podem ser inadequados devido à falta de experiência prática no uso e fabricação de mobiliários. O objetivo do marceneiro profissional não é sempre simplificar o trabalho para ele mesmo ou economizar material. Pelo contrário, uma vez que uma chapa é comprada, o que sobra geralmente se perde, e o mesmo vale para fitas, chapas, perfis e outros materiais como LEDs. Não há economia significativa quando as quantidades são pequenas, especialmente para chapas brancas, onde o aproveitamento é total, não parcial.



Nem todo famoso ao seu tempo é bom, nem todo anônimo ao seu tempo é ruim. Quem era famoso e ruim desse tempo, cujo nome nos lembramos?

A marcenaria ainda é uma profissão movida por paixão. Profissionais de verdade têm orgulho de um serviço bem executado, e é comum ver marceneiros que mostram seus trabalhos com orgulho para colegas, tratando cada obra como se fosse um projeto pessoal. Embora existam, em todas as áreas, aqueles que buscam apenas lucro imediato, muitos marceneiros se dedicam a criar algo bonito e duradouro, mesmo que isso signifique trabalhar além do necessário ou sem compensação financeira imediata. Eles fazem isso pelo prazer de superar desafios e pela satisfação de agregar uma obra esteticamente agradável ao seu portfólio.


Confiança é fundamental, mas é preciso discernimento. Um bom marceneiro, especialmente aquele com anos de experiência, tende a valorizar sua profissão e trabalho, seja ele próprio ou por meio de funcionários e subempreiteiros. Embora seja importante manter um olhar crítico e não confiar cegamente, vale a pena considerar as sugestões de profissionais que demonstram conhecimento e comprometimento com o trabalho. Muitos deles buscam entregar mais do que o mínimo e se envolvem com cada projeto como uma criação pessoal, até mesmo quando executam projetos de outros. Por isso, acredite um pouco mais nos profissionais de verdade: ainda há muitos que fazem a diferença, criando móveis que equilibram estética, funcionalidade e durabilidade.


12 - Faça um Esforço para Olhar Como Profissional da Área


Dando continuidade ao item anterior, é importante entender como um marceneiro enxerga a obra, pois há questões técnicas que vão além da visão arquitetônica e que são cruciais para a execução do projeto. Isso inclui desde o tamanho das chapas até a forma de transporte, riscos de corte, paginação (a orientação dos veios e como as peças são extraídas da chapa), além das sequências de montagem, peso das peças, e a viabilidade técnica com o maquinário disponível.


Muitas vezes, existe a ideia de que arquitetos(as) compreendem mais sobre execução do que a mão de obra envolvida. No entanto, posso afirmar, com mais de 20 anos de experiência como arquiteto e mais de 30 como marceneiro, que essa percepção está longe da realidade. Arquitetos que realmente superam a experiência dos mestres de obra e da marcenaria são raros.


Em termos estatísticos, é verdade que boa parte da mão de obra pode não ser instruída nos conceitos de design, arte, simbolismo psicológico ou estruturas complexas. No entanto, devemos lembrar que as grandes catedrais e edifícios históricos foram construídos por mestres de obra e trabalhadores sem diploma, que possuíam conhecimentos práticos e habilidades que ainda são admirados hoje. A arquitetura moderna, como a Bauhaus e o design do pós-guerra, só se tornaram possíveis devido à adaptação da indústria para a produção em massa e à necessidade de reconstrução econômica. As chapas de compensado, metais extrudados e a produção serial foram impulsionadas por essa demanda, associada à ideologia e à conjuntura histórica. Sem esses fatores, talvez o modernismo não tivesse prosperado da mesma maneira.



Gosto é gosto, mas uma foi concebida por não diplomados. E a outra já foi e ainda é uma tendência cult.

Por isso, ao trabalhar com marcenaria, converse com o profissional e pergunte o que ele acha sobre possíveis alterações ou melhorias no projeto. É fundamental avisar que essas sugestões são consultas que podem ou não ser aplicadas, respeitando a autonomia do profissional. Esse tipo de colaboração e respeito reduz custos, melhora a execução e aumenta a durabilidade dos móveis, além de fortalecer a relação profissional e agregar valor ao resultado final.


13 - Tenha Paciência


Marcenarias pequenas, em geral, não conseguem atender imediatamente, pois sua abordagem é mais artesanal e personalizada do que industrial. Isso reflete diretamente na variação de custos e qualidade dos produtos. É importante entender que existem, basicamente, três tipos de marcenaria:


1) Indústrias de Lojas de Planejados


Essas não podem ser exatamente chamadas de marcenaria tradicional, mas se assemelham no processo final. Funcionam através de softwares integrados que planejam o corte e a produção em um ambiente fabril enorme e automatizado, muitas vezes distante do cliente. O "projeto" é montado por profissionais de vendas, que podem ser arquitetos ou marceneiros adaptados ao processo. Após a aprovação do projeto e assinatura do contrato, a fábrica corta as peças e envia para montagem, onde um montador segue as instruções detalhadas.


Esse tipo de marcenaria utiliza, com muita frequência, MDP (aglomerado) e fitas de topo grossas para camuflar a espessura real e aumentar a resistência aparente. Embora possam oferecer móveis de qualidade e preços mais acessíveis, com opções de pagamento em parcelas estendidas e juros baixos, não são considerados marcenaria no sentido artesanal.


2) Marcenarias Grandes com Funcionários


Esse tipo de marcenaria é um exemplo de transição entre a abordagem artesanal e a industrial. Elas geralmente são administradas por um proprietário ou coordenador com amplo conhecimento, muitas vezes um mestre marceneiro. A equipe é composta por funcionários, que podem ser contratados em regime CLT ou por empreitada. O processo produtivo é mais ágil, permitindo um giro mais rápido, mas o foco tende a ser a eficiência e volume, mais do que o detalhamento artesanal.


Mesmo assim, isso não significa que a qualidade não esteja presente. Muitos dos profissionais ali trabalham com o mesmo rigor e dedicação encontrados em marcenarias menores. As práticas mencionadas nos itens anteriores sobre atenção aos detalhes e qualidade artesanal ainda são aplicáveis, dependendo do compromisso dos funcionários e da liderança da marcenaria.


3) Marcenarias Pequenas


Essas são, de longe, a maioria no Brasil e variam em tamanho, desde operações em garagens até galpões de até 300m² ou mais. O grande diferencial aqui é a presença ativa do proprietário, que geralmente é um marceneiro experiente, coordenando pessoalmente todas as etapas da produção.


Diferente das grandes marcenarias, onde o foco é o giro, as marcenarias pequenas mantêm a essência artesanal, com atenção aos detalhes e ao envolvimento pessoal. Os profissionais que conduzem esse tipo de marcenaria tendem a valorizar a qualidade e a satisfação do cliente, buscando a perfeição em cada peça como parte de sua própria realização profissional.


O envolvimento direto do proprietário e a produção personalizada significam que os prazos podem ser mais longos, mas o resultado final é, na maioria das vezes, de altíssima qualidade, refletindo a paixão e o comprometimento com o ofício. Por isso, tenha paciência: se você valoriza a qualidade e o toque artesanal, a espera certamente valerá a pena.



14 - Pense a longo prazo


Pensar a longo prazo é essencial ao planejar a marcenaria de um ambiente. O custo imediato pode parecer mais atraente, mas móveis feitos sob medida são um investimento que pode durar décadas quando bem projetados e executados com materiais de qualidade. Ao focar em tendências passageiras, o risco de enjoar ou perceber que aquele design ficou ultrapassado é grande, transformando o que antes era um móvel de luxo em algo datado ou até mesmo banal.



Por isso, é fundamental optar por materiais e componentes duráveis, como corrediças robustas de 35 kg ou mais, sempre rolamentadas e zincadas para garantir longevidade. Escolher puxadores clássicos e resistentes, assim como kits de portas de correr compatíveis com o peso das portas e de marcas bem conhecidas no mercado, é um diferencial que previne problemas futuros. Muitas vezes, kits padrão de qualidade oferecem desempenho excelente por anos, enquanto opções mais caras nem sempre correspondem à expectativa, demandando manutenção precoce.


Ao projetar, considere não apenas a estética, mas também a praticidade, como a instalação de pingadeiras de granito para evitar danos causados pela umidade, lixeiras externas que não afetam a estrutura do móvel e o cuidado com a hidráulica em áreas molhadas. Dessa forma, você estará investindo em peças que não apenas complementam o ambiente com elegância, mas que também garantem funcionalidade e resistência a longo prazo.


Lembre-se: qualidade é um investimento, e a durabilidade está nas escolhas criteriosas, não necessariamente nas mais caras ou nas que seguem a moda do momento.






Fonte das imagens: internet

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida - www.arkdesign.com.br


4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Opmerkingen


bottom of page