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Muji e Hygge: Design japonês e nórdico

O que há em comum entre o design nórdico, também chamado Hygge, e o design japonês contemporâneo, conhecido como Muji?


Apesar de terem raízes completamente diferentes, são muito semelhantes na em sua essência e no nível de sinestesia em que se apoiam.

Neste artigo, tratarei do design nórdico apenas, porém, o efeito final e alguns valores são os praticamente os mesmos que o Muji. Claro, numa primeira análise visual.


Fora isso, o design brasileiro também é muito semelhante... também farei um artigo importantíssimo sobre o mesmo, senão o mais importante!


O Hygge: origens

Antes de entrarmos no Hygge, devemos voltar às raízes do modernismo - e seu funcionalismo e ideologias, propostas e esperanças. E antes do modernismo, a origem do plywood - compensado: a alma inicial do mobiliário industrializado europeu, que ganhou o mundo.


Quem inventou o compensado foram os antigos egípcios. Eles cortavam a madeira em partes finas e colavam com veios transversais. Em 1797 Samuel Bentham patenteou métodos e máquinas para produção de compensados, colados com verniz e outras resinas. Mas os cortes dele eram retos com relação ao tronco, eram fatias apenas e por isso não poderiam ser maiores que o tronco.


Em 1947 Immanuel Nobel inventou o torno rotativo, que como um apontador de lápis, mas paralelo, gerava laminas enormes de madeira até o esgotamento do tronco (se bem que este torno rotativo tenha registros na França em 1860). Em 1880 alguns artistas já utilizavam compensado para pintar, substituindo as telas, coisa que já fiz também na falta de uma e com aquela vontade enorme de jogar tinta em algum lugar!


Após a invenção do compensado, o Modernismo, influenciado por idéias definidas na Carta de Atenas (o manifesto Modernista, redigido num luxuoso navio no Mediterrâneo, sobre como deveria ser a vida dos não luxuosos em terra), também montado sobre alicerces de diversas ideologias da época, movimentos filosóficos e religiosos, e sobretudo econômicos, deu início aos móveis que hoje conhecemos nas lojas de departamento. E ao termo interno atual e brasieliro, de marcenaria: "montador de caixote".

Através da Bauhaus principalmente, e outros designers, o compensado e a idéia de mobiliários práticos, espaço fluido e multifuncional, a idéia de a casa servir como máquina e ter um propósito além de abrigo, fez nascer o design funcional - o que de fato poderia ser uma definição enganosa, pois funcionalidade pura não é tão funcional assim, e eles não chegavam a ser também funcionalidade pura. Apenas que o design agregado era de uma estética industrializável, e não Art Nouveau, por exemplo.


Sincretismo nórdico


Em sincretismo com a base nórdica do conforto da madeira num clima extremamente frio, a palavra Hygga, vista pela primeira vez no século 19, que tem associados os conceitos "conforto, aconchego, abraço, segurança, fluxo espontâneo", expressou-se fortemente através do uso de madeiras de reflorestamento e plywood (compensado).


Assim como no Muji japonês, o Hygga é intimamente associado a natureza, e nela busca expressões de relaxamento e significado.


O modernismo na Noruega e Dinamarca expressou-se através do Hygge, com alguns valores sociais em comum, e industriais inovadores.

Então, móveis entalhados a mão, com madeiras claras e lixados, redondos e confortáveis, seguem a base histórica tradicional vernacular nórdica. Já os móveis retos, são pura influência da industria bauhausiana, que é praticamente a industria global atual, de linhas retas, o qual entrou no país e se naturalizou lá como Hygge, tal qual um estrangeiro que se naturaliza em qualquer país mas evidentemente, tem em seu rosto os traços de sua origem.

Em diversas imagens podemos ver que é um design basicamente mundial e industrializado, com cores confortáveis, se autoproclamando Hygge.

Em alguns aspectos, móveis de peças maciças, trabalhados, pisos acinzentados e peças rosadas para quebrar a frieza (vide Signe Johansen) trabalham em conjunto para criar aquela atmosfera de aconchego quente, com vista para montanhas congeladas, mas temperadas com uma frieza que é necessária, pois o contexto obriga: não cabe uma paisagem tropical indoor de frente para as montanhas geladas. Nossos sentidos não se assentam.


A forma correta de se pronunciar é "hoo-gah", mas é claro que no Brasil, talvez vire "Rigue" ou "Riga".

Já o Muji, possui principios semelhantes e detalhes à parte. Porém, em termos de paleta e grau de conforto, ideologia e sinestesia, são muito parecidos. E ambos dizem serem minimalistas. Mas quanto a isso, não podemos amarrar: minimalismo é uma decisão de estilo de vida, e não de desenho, apesar de ter gerado essa idéia, de que linhas mínimas é minimalismo. O verdadeiro minimalismo é relacionado ao mínimo consumo, e não a economia de traços de mobiliários e arquitetura - que as vezes produz mais consumismo que o traço reto. E aos que não trabalharam para chegar ao minimalismo em arquitetura, aqui vai uma dica: o minimo é simples, depois de feito. Até lá, ele é muito mais trabalhoso, e as vezes muito mais caro. Mas sobre isso, falo em outro artigo, sobre o minimalismo!




Fonte das imagens: internet.

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida (11)999128929 - www.arkdesign.com.br


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