Embora Theo Van Doesburg (1883-1931) também tenha sido uma figura crucial, Mondrian se destacou como o principal teórico do neoplasticismo (ou De Stijl — 'O Estilo'), associando arte à matemática e às proporções visuais, além de explorar a Gestalt como teoria da percepção. Sua estética propunha dividir a percepção em áreas com pesos relacionados às cores, criando composições de equilíbrio e desequilíbrio. Muitos de seus quadros são estudos aprofundados desse conceito. Mondrian também influenciou o design, como na criação da icônica cadeira Rietveld, que é mais simbólica do que prática.
Um exemplo dessa abordagem perceptiva está nas cúpulas de Brasília, que, embora pareçam ter o mesmo tamanho, são diferentes, mas com pesos visuais iguais para criar um equilíbrio estético.
Apesar de sua influência e das teorias que atravessam arquitetura, design e artes visuais, o motivo pelo qual vemos tantas obras semelhantes aos trabalhos de Mondrian não se deve apenas ao impacto de suas ideias.
Neste e no século passado, a indústria química e a engenharia de materiais evoluíram a uma velocidade impressionante, desenvolvendo novas texturas e materiais que ampliaram as possibilidades do design. Mesmo antes da computação gráfica, essas áreas já exploravam geometrias complexas e intrincadas. A siderurgia, com seus perfis como o metalon, abriu caminho para a criatividade ilimitada de arquitetos e designers, permitindo que eles incorporassem elementos modernos e estruturais em suas criações.
O conceito de alta tecnologia e o uso de materiais compostos estão, hoje, amplamente difundidos, mas foi o movimento modernista, particularmente o trabalho de Mondrian, que influenciou a criação de móveis com suas linhas pretas marcantes e áreas de cor viva. Nos anos 70, período de estabilidade após a Segunda Guerra Mundial, a obra de Mondrian se integrou às roupas e mobiliários, consolidando-se como uma referência estética, seja em alta ou como um clássico de fundo, por décadas.
Hoje, a tendência dos cachepots em estruturas aramadas de aço reflete uma releitura “ecológica” do estilo de Mondrian. No entanto, a familiaridade e a popularidade dessa estética facilitam sua adoção por profissionais, muitas vezes sem um olhar crítico ou uma compreensão profunda. Isso resulta em uma repetição estética que, embora visualmente atraente, carece de autenticidade e originalidade, deixando de explorar a essência transformadora que caracteriza as obras pioneiras do modernismo.
Para aqueles que buscam projetos que transcendam as tendências passageiras, é fundamental escolher profissionais que valorizem a essência do design e a durabilidade das escolhas, garantindo um equilíbrio entre estética e funcionalidade que se sustenta ao longo do tempo.
Uma releitura genuína de Mondrian deveria considerar as nuances naturais: as cores das folhagens, o tamanho dos vasos, e o porte das plantas, criando um equilíbrio visual com a mesma precisão teórica aplicada em seus quadros, que, embora pareçam simplistas, seguem uma lógica complexa. Na prática, entretanto, quase ninguém aplica a teoria gestaltiana para medir o peso psicológico das áreas coloridas, o que exige um olhar atento e um conhecimento profundo de proporções e equilíbrio.
Estantes aramadas com caixas, por exemplo, não são exatamente uma inovação. Elas já eram populares nos anos 60 e 70, e, embora sejam tendência e tenham seu apelo estético, não trazem novidade. No entanto, para aqueles mais imersos no universo do design e da arquitetura, essa repetição pode ser considerada ultrapassada ou até mesmo brega. Ainda assim, vamos deixar de lado esse julgamento purista, afinal, somos todos seres humanos e, no fim das contas, o que é belo nos traz felicidade. E se algo nos faz sentir bem e agrega ao nosso espaço, ele cumpre seu papel. O importante é escolher o que ressoa com nossa personalidade e estilo de vida, independente do que o mercado ou as tendências ditam.
Fonte das imagens: internet.
#mondrian, #marcenaria, #sãopaulo, #marceneiro, #contemporanea, #estante, #ferro, #aço, #madeira, #mdf, #metalon, #estrutura, #linhas
Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida - www.arkdesign.com.br
Comments