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Para além de 2050: Ficar em casa e COVID-Lições que aprendemos

Foto do escritor: Arq. Gabriel Noboru IshidaArq. Gabriel Noboru Ishida

Atualizado: 10 de out. de 2024



A pandemia trouxe mudanças profundas para o cotidiano, iniciando uma nova era. Com características que beneficiam alguns e desafiam outros, é um cenário sem retorno ao que conhecíamos. Valores tradicionais, muitas vezes adormecidos por décadas de transformações culturais e sociais, voltam a emergir, reforçando a importância de elementos como a estabilidade do lar e da vida familiar. Esses valores, que foram ofuscados por experimentos sociais e ideologias que se estabeleceram ao longo dos últimos 60 anos, encontram agora um novo espaço.


Durante muito tempo, a estética disruptiva, que se opunha ao clássico e ao organizado, dominou a cena cultural. Inspirada por um ideal ideológico, essa estética—conhecida como deconstrutivismo—não priorizava a funcionalidade ou a harmonia, mas sim a desconstrução e a subversão das normas tradicionais. Esse movimento, que se alinhava com a contracultura, desafiava a base estética clássica, buscando quebrar com a organização e hierarquia estabelecidas. Giulio Carlo Argan, em seu livro Arte Moderna, descreve essa abordagem como "pitoresca", e embora sua análise remonte a um período anterior ao surgimento do marxismo cultural, a dualidade entre caos e ordem é um tema recorrente, presente desde tempos antigos.


No final da grandiosidade romana, qualquer estética que fugisse do padrão greco-romano era vista como “bárbara”. Os romanos valorizavam a simetria, a matemática e a universalidade como expressões de civilização e ordem social. Com o tempo, essas estéticas passaram a representar não só valores artísticos, mas também a estabilidade e a organização da vida em sociedade, algo que, com a pandemia, se tornou novamente um valor buscado e ressignificado.


Para aqueles que já apreciavam o ato de investir em seus lares, criando ambientes que combinam beleza e funcionalidade, o isolamento durante a pandemia não foi um desafio tão grande. Pelo contrário, muitos aproveitaram a oportunidade para desfrutar de um espaço cuidadosamente planejado, onde a estética, a funcionalidade e o conforto estavam alinhados com seus valores pessoais e sociais.


O mercado atual oferece inúmeras possibilidades, e enquanto alguns preferem investir em tecnologia, roupas de marca ou carros luxuosos, outros encontram satisfação em construir um ambiente acolhedor e belo. Redes sociais incentivam a exibição de bens materiais, mas muitos já perceberam que a verdadeira qualidade de vida vem de um espaço bem resolvido, onde conforto, estética e funcionalidade se encontram.


Vivemos em um tempo em que a busca por validação externa via redes sociais é uma realidade. Porém, há um número crescente de pessoas que, resolvidas e maduras, escolhem focar na qualidade do ambiente em que vivem, sem a necessidade de exibição constante. Essas pessoas valorizam o lar como um espaço de harmonia, refletindo uma mudança de percepção sobre o que realmente importa: um ambiente onde se possa viver plenamente, com conforto e tranquilidade.


É natural que, com a correria do dia a dia, algumas pessoas deixem de prestar atenção ao próprio lar. Não que seja algo negativo, mas a verdade é que, com frequência, acabamos focando em outras áreas da vida e esquecemos o que está mais próximo de nós. A quarentena trouxe uma chance única de reavaliar onde estamos investindo nosso tempo, dinheiro e energia. Será que estamos dedicando mais recursos para impressionar os outros ou para nos beneficiar? Onde está o equilíbrio entre viver para o social e viver para si?


Reflexões sobre o Sucesso e Beleza


O sucesso e a beleza, no fundo, só fazem sentido quando compartilhados. Um exemplo provocativo: Adão não sabia que era rico, nem se Eva era linda ou feia. É a sociedade, a convivência, que nos oferece esse espelho. Nossas necessidades vão além da sobrevivência básica — são essenciais para nosso desenvolvimento. Ainda que algumas pessoas possam ter aversão à beleza (sim, isso existe!), é difícil negar que conforto, estética e bem-estar são fundamentais para qualquer um que já superou as necessidades básicas da vida.


Contrastes Sociais


Quantas vezes não vemos uma cena comum: um barraco humilde com um carro luxuoso estacionado na frente? Ou roupas caríssimas em lugares onde o padrão de vida aparenta ser modesto. Não cabe julgar ou criticar, pois cada um encontra felicidade de forma diferente, e há muitas pressões sociais envolvidas. Não pretendo entrar nesse debate, pois é complexo e multifacetado, mas apenas destacar esses fatos e deixar que cada um interprete da forma que achar melhor.



Níveis de Moradia e Bem-Estar


Ao longo da vida, moramos em diferentes camadas de existência. Compartilho aqui minha visão pessoal dos níveis que compõem nossa "residência":

  1. Nosso espírito: a essência que define quem realmente somos.

  2. Nossa mente e cultura: o intelecto e o conhecimento que acumulamos, elementos que moldam, mas não definem, nossa identidade.

  3. Nosso corpo: é o “espaço” em que habitamos 24 horas por dia. Cuidar da saúde e aparência é fundamental para vivermos bem, afinal, sem isso, todo o resto perde o valor.

  4. Nossa casa e cama: passamos um terço ou até um quarto da vida dormindo, mas muitas vezes ignoramos a importância de investir em conforto e qualidade nesse espaço. O lar é onde descansamos, nos divertimos e reajustamos nossas metas e energias para enfrentar o dia seguinte. É, sem dúvida, um dos fatores mais determinantes para nosso bem-estar e sucesso.

  5. Nosso trabalho: embora a maioria trabalhe como funcionário, é uma parte fundamental da vida, influenciando nossa rotina e estilo de vida, mas nem sempre podemos controlar essa área como gostaríamos.

  6. Nosso veículo: um símbolo visível de sucesso, mas que pode ser enganoso se usarmos apenas para impressões externas. É preciso ter cuidado para que ele não se torne uma extensão da opinião alheia, refletindo mais a necessidade de aprovação social do que o real conforto ou necessidade.

Essas reflexões são um convite para pensarmos em nossas prioridades e em como estamos construindo nossos espaços — internos e externos.





Fonte das imagens: internet.

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida - www.arkdesign.com.br


 
 
 

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